Saturday, November 1
...mesmo ao escrever sobre um filme como Terra sem pão, de Buñuel, que é uma documentação mordaz da condição material de uma população específica (os habitantes do vale de Las Hurdes) em um país específico (Espanha), sob uma coligação específica de classes prevalentes (da burguesia e da Igreja Católica), tudo isso apresentado com amarga ênfase no próprio filme, Bazin ainda consegue varrer a poeira material para debaixo do tapete tão rapidamente que é difícil saber o que foi visto, e escapar de forma imediata para as poeiras mais edificantes do paraíso.
Foi observado que, em seu artigo sobre Terra sem pão, Bazin nem sequer menciona as palavras "classe", "explorada", "rico", "capitalismo", "propriedade", "proletariado", "burguesia", "ordem", "dinheiro", "lucro" etc. E quais são as palavras que encontramos em seu lugar? Expressões grandiosas, conceitos abrangentes e generosos que são a matéria-prima de uma extensa tradição do idealismo humanista burguês — como "consciência", "salvação", "tristeza", "pureza", "integridade", "crueldade objetiva do mundo", "verdade transcendental", "crueldade da condição humana", "infelicidade", "a crueldade na Criação", "destino", "horror", "piedade", "Madona", "miséria humana", "obscenidade cirúrgica", "amor", "dialética pascaliana" (tinha de ser pascaliana!), "toda beleza de uma Pietà espanhola", "nobreza e harmonia", "presença do belo no atroz", "um infernal paraíso terrestre" etc. etc.
— James Roy MacBean
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Oi, Marcelo, obrigado pelo comentàrio deixado no blog. Achei o seu interessante também, vou acompanhà-lo de perto... abraço.
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