Sunday, August 7
Na TV americana, uma propaganda propõe que os pais submetam seus filhos adolescentes a um detector de mentiras, por preços módicos. Método grotesco, mas que encerra um sintoma. A geração dos desajustados, à moda de James Dean, e a dos revoltados de 1968 tinham algo em comum: expunham, publicamente, por atitudes ou proclamações, seus conflitos com a sociedade. Os jovens do ano 2000, ao contrário, isolam-se com fones de ouvido ou diante dos computadores e acreditam num comportamento dissimulado. Como atores, representam diante dos pais ou na escola, um mínimo, para serem deixados em paz. Formam fraternidades cúmplices e silenciosas. Desistiram de contrariar o resto do mundo, sentido como hipócrita e falso. A presença da droga, real, mas pretensamente condenada, reforça a dissimulação e acentua a hipocrisia; afinal, o presidente tragou ou não? O massacre do Colorado deixou as famílias perplexas, pois os autores eram, em aparência, bons garotos. Mas, por um outro viés, já que estes nossos tempos merecem tal dissimulação, quem sabe estes jovens de agora, desacorçoados com as imposturas de hoje, consigam criar um futuro feito de relações mais verdadeiras.
— Jorge Coli